Como frequentar e os benefícios
Os grupos de apoio são parte importante no tratamento da dependência química, especialmente quando combinados com outras práticas terapêuticas.
Eles representam um espaço onde é possível compartilhar a própria história com outras pessoas que vivem situações semelhantes, sem qualquer julgamento.
Dessa forma, contribuem com o processo de acolhimento do paciente e com os próprios estágios de contemplação, no qual ele adquire consciência de que uma mudança de comportamento se faz necessária.
Nesse sentido, vale citar uma pesquisa da SUNY Downstate Health Sciences University, que compilou uma série de estudos sobre o assunto e listou benefícios das reuniões.
De todas as contribuições citadas, a mais importante se refere justamente ao maior envolvimento do paciente com o tratamento.
Segundo a pesquisa, ouvir e compartilhar experiências, inclusive sobre recaídas, ajuda a pessoa a ser mais vigilante com as suas limitações em relação à dependência química.
Também os encontros são muito importantes para as famílias.
Não por acaso, há grupos específicos para oferecer suporte a pais, amigos e pessoas próximas ao dependente químico, o que só repercute positivamente na sua motivação.
O que são grupos de apoio e como funcionam?
Os grupos de apoio, também conhecidos como irmandades de mútua ajuda, podem ser definidos como entidades filantrópicas que recebem e dão assistência não profissional e não clínica a pessoa e seus familiares que possuem algum histórico de dependência química.
Funcionam a partir de reuniões periódicas, que colocam frente a frente pessoas que já sofreram ou ainda sofrem para abandonar o uso abusivo de álcool e outras drogas.
Um ponto importante é o compartilhamento de situações desagradáveis que foram causadas pelo consumo.
A diferença é que, ao lado, estão as pessoas que sabem exatamente como é passar por aquilo.
É possível que você já tenha ouvido sobre Alcoólicos Anônimos (AA) ou Narcóticos Anônimos (NA).
Eles são os exemplos mais conhecidos de grupos de apoio, mas existem outros, sobre os quais ainda vou falar neste texto.
Ainda que não possam ser consideradas entidades de suporte profissional aos dependentes químicos, as irmandades de mútua ajuda utilizam técnicas e metodologias amplamente testadas.
Estamos falando do programa dos 12 passos. Você já ouviu falar?
A abordagem funciona como uma espécie de cartilha, na qual a pessoa avança etapa após etapa, indo desde o reconhecimento da sua dependência até a busca por autoconhecimento, as mudanças comportamentais e o compartilhamento desses valores.
Vamos Resumindo, cada um dos 12 passos.
A primeira etapa do programa é reconhecer a dependência e admitir a sua impotência diante do seu vício.
Nos grupos de apoio, essa aceitação é chamada de “rendição”.
Ela representa o momento em que surge a percepção real sobre a proporção tomada pelo problema e como ele afeta a rotina.
Aqui, a ideia é encontrar alguma força que sirva de inspiração para vencer o vício.
Muita gente busca esse estímulo na fé, na crença e na espiritualidade.
No entanto, a resposta não é, necessariamente, essa.
A grande questão é voltar a acreditar que a recuperação é possível.
Para algumas pessoas, isso pode significar olhar para si mesmo com confiança e generosidade.
O terceiro passo nada mais é do que uma materialização do anterior.
Não basta apenas ir em busca de uma força superior: também é preciso acreditar que ela, independente da representação que tiver, pode fazer a diferença no seu caminho de recuperação.
Uma das grandes chaves na recuperação da dependência química é o autoconhecimento.
O paciente precisa fazer uma retrospectiva completa da sua vida para tentar entender o que levou ele ao consumo abusivo de drogas.
Para isso, é vital escrever o chamado inventário moral, um registro de todas as escolhas que o trouxeram até aqui.
Quanto maior for a riqueza de detalhes nesse relato, melhor.
O propósito é compreender o passado para definir o que será feito a partir dali.
Com o inventário moral pronto, fica mais fácil reconhecer as fraquezas que levaram a pessoa à dependência química.
Esse diagnóstico é a etapa preliminar para o quinto passo: admitir para outros integrantes do grupo de apoio as suas falhas.
É quando se começa a estabelecer uma relação de confiança entre os membros da irmandade.
Aos poucos, após ouvir os relatos de seus pares, os demais passam a se sentir seguros e acolhidos para compartilhar as suas histórias.
Pode parecer estranho definir como “defeitos de caráter” eventuais erros que a pessoa tenha cometido para chegar ao estágio atual.
Por isso, prefiro chamar de fraquezas.
Ao se propor a removê-las, o paciente permite que a força superior definida o ajude a superar pensamentos, ações e comportamentos negativos.
Esse deve ser um processo diário, construído diante de cada uma das dificuldades que possam surgir.
Para vencer as fraquezas, é fundamental desenvolver uma competência específica: a humildade.
Sem ela, todo o programa fica inviável.
É sobre isso, justamente, que trata o passo número 7.
Durante a fase aguda da dependência química, é comum que as pessoas, de forma involuntária, machuquem ou prejudiquem pessoas ao seu redor.
Nesta etapa, portanto, a ideia é reunir os nomes de todos que tenham sido atingidos negativamente em algum momento durante a adicção ativa.
Com a lista reunida, o adicto com a orientação do seu padrinho, já pode ir atrás dos envolvidos e buscar uma reparação de danos.
O objetivo é que o dependente químico apresente, de forma genuína, um pedido de desculpas.
Em alguns casos, as pessoas atingidas podem guardar certa mágoa e não aceitar o perdão, é verdade.
Mas o importante é que o exercício seja posto em prática e se possa seguir em frente com a consciência tranquila.
A dependência química é uma doença que não permite descuidos.
Qualquer desvio pode significar uma recaída – o que implica em ter de começar a caminhada novamente.
Por isso, o décimo passo é uma lembrança de que a construção do inventário moral é um processo diário e contínuo.
Existem diferentes maneiras de se buscar o autoconhecimento e um contato mais próximo com a espiritualidade.
A penúltima etapa do programa sugere a oração e a meditação como caminhos para se exercer a reflexão.
O essencial é criar uma conexão profunda.
O 12° e último passo, na verdade, não é o final, mas um recomeço de ciclo.
Atingir este estágio é sinal de que se está pronto para repassar os aprendizados adiante e fazer a roda girar.
Agora que compreende o que são os doze passos para recuperação, é importante entender melhor sobre a dinâmica do grupo e por que ele é tão importante no tratamento da dependência química e compulsões.
Os grupos de apoio operam-se por reuniões e reflexões em grupo acerca de um problema em comum.
Como por exemplo os Alcoólicos Anônimos, que se reúnem para falar e discutir sobre os problemas do abuso e dependência do álcool.
Dessa forma é possível destacar alguns dos vários fatores terapêuticos que a experiência dos grupos de apoio fornece:
Aconselhamento: Tanto o terapeuta ou líder do grupo quanto as pessoas que estão lá a mais tempo entendem bem pelo que a nova pessoa está passando, pois já estiveram na mesma situação, por isso acolhem e fornecem estratégias para suportar ou superar o momento.
Esperança: A partir da convivência no grupo, começa a se instaurar a esperança na pessoa de aquilo pode dar certo e retornar a um estado melhor e mais positivo; devido ao alívio que se sente ao ser entendido e acolhido, bem como ao ver pessoas que passaram por situações parecidas e que hoje estão bem.
Universalidade do problema: Ao estar num grupo onde são compartilhadas as experiências e vivências de cada uma ali, é possível perceber que não se está sozinho, de modo que vê que seu problema não é único, nem acontece apenas com uma pessoa.
Aceitação: O apoio do grupo e familiaridade com o problema, facilita com que a pessoa aceite mais facilmente sua condição e seu problema, sendo esse um passo importante para um tratamento eficaz.
Catarse: Palavra com muitos significados, mas que aqui se traduz na expressão “tirar o peso do peito”, que ocorre quando a pessoa se expressa perante o grupo, expondo suas dores e fraquezas, ainda após isso é acolhido com experiências e reflexões dos outros membros, sendo capaz de gerar mudanças emocionais profundas.
Autoconhecimento: Na medida que se participa das sessões e se acostuma com o programa de passos é muito provável que comece a se autoconhecer melhor, inclusive entendendo o que aconteceu para que se encontre naquela situação.
Socialização: A prática nos grupos também ajuda a resgatar habilidades perdidas e desenvolver novas, para que possa voltar a um convívio sadio novamente. Ao mesmo tempo que também ensina como conviver novamente em sociedade de forma que não repita os mesmos erros de outrora.
Agora que você já sabe para que servem os grupos de apoio, vale conhecer quais são.
Antes de apresentar alguns deles de forma mais detalhada, segue uma lista com alguns que utilizam o programa de 12 passos e o foco da abordagem:
Todos eles têm um trabalho muito importante na sociedade.
Particularmente no contexto da dependência química, destacamos aqueles que abordam doenças emocionais, comportamento obsessivos relacionados ao sexo e ao jogo, já que esses são fatores que podem motivar o dependente a voltar ao uso de drogas.
Também é importante enaltecer o trabalho de grupos de apoio para familiares, como Al-Anon, Nar-anon e Amor Exigente.
Para que você entenda a essência de grupos assim, veja mais detalhes sobre três deles:
Certamente, é o grupo de apoio mais famoso.
O AA, também conhecido como Alcoólicos Anônimos, nasceu nos Estados Unidos na década de 1930.
A irmandade é a grande responsável pela criação do programa dos 12 passos, em 1939, e também pela fundação de outras associações.
No Brasil, o Alcoólicos Anônimos começou suas reuniões em 1947, a partir da chegada de um dos criadores do movimento nos Estados Unidos, aqui no Brasil.
Com o tempo, foram surgindo ramificações dentro do próprio grupo, com o objetivo de focar nas particularidades de cada caso.
Uma das correntes que surgiram a partir do AA foi o NA.
O Narcóticos Anônimos tem os seus primeiros registros de atividades também nos Estados Unidos, mas no final da década seguinte – no caso, a de 1940.
A entidade surgiu com o intuito de prestar suporte para pacientes com vício em outros tipos de drogas além do álcool.
No Brasil, o grupo se estabeleceu bem mais tarde, em 1978.
A cidade de São Paulo foi a primeira a organizar uma reunião da irmandade.
Mulheres que amam demais (MADA)
Com o tempo, a metodologia passou a ser utilizada para oferecer suporte a diferentes tipos de compulsão, não necessariamente ligados à dependência química.
Com base no livro homônimo de Robin Norwood nasceu o MADA, uma irmandade que também tem inspiração no AA, pois adaptou o programa dos 12 passos para a realidade de suas integrantes.
O propósito do grupo é dar suporte a mulheres que sofrem de dependência emocional, um quadro em que o amor ultrapassa fronteiras, se transformando em sacrifício.
Qual a importância dos grupos de apoio para recuperação dos dependentes
Grupos de apoio
O programa dos 12 passos é uma ótima demonstração de como os grupos de apoio podem ser importantes na recuperação de dependentes químicos.
O ponto central das irmandades de ajuda mútua é oferecer suporte às pessoas e seus familiares sem qualquer tipo de julgamento e com conhecimento de causa.
Não estamos referindo ao domínio técnico da doença, mas da experiência prática de quem passou e passa pelos desafios da dependência todos os dias.
Além disso, não se trata de uma estratégia isolada.
O ideal, inclusive, é que o programa de 12 passos seja adotado em conjunto com outras opções de tratamento, preferencialmente com suporte profissional especializado.
Não há dúvidas de que os grupos de apoio só têm a agregar no tratamento e na recuperação de dependentes químicos.
Ainda assim, é importante destacar os benefícios que considero como os mais importantes em toda essa jornada.
Segue à lista:
Por que o dependente químico deve frequentar um grupo de apoio?
Mais do que encarar as reuniões em grupos de apoio como parte do tratamento, o dependente químico deve frequentar os encontros como uma forma de se reencontrar enquanto pessoa.
Com base na minha experiência, posso dizer que as recaídas são mais frequentes quando o paciente não desenvolve um novo propósito de vida ou não entende o que o levou até o quadro de dependência química.
O papel do grupo de apoio é, então, de permitir encarar a própria realidade e falar em voz alta sobre ela, como forma de superação.
Desde o princípio deste artigo, ressaltamos a importância dos grupos de apoio não somente para os dependentes químicos, mas também para o suporte a amigos e familiares.
Não à toa, existem irmandades específicas para aqueles que sofrem com o quadro vivido por alguém que amam.
Entre as associações mais conhecidas, posso citar o Al-Anon, e Nar-Anon, o Amor Exigente e o Projeto Ame, Mas Não Sofra, da Secretaria de Justiça e Cidadania do Distrito Federal.
Existem grupos de apoio online? Sim!
Após todos os ocorridos no ano de 2020 muitos Grupos passaram a funcionar na modalidade online, para que não deixassem de atender as demandas novas e acolher aqueles que necessitavam.
No momento em que vivemos agora, estamos na etapa do recomeço e muitos grupos de apoio passaram a atender de maneira presencial novamente, porém ainda com reuniões online, coisa que deve se manter por um bom tempo.
Grupos de apoio para dependência de diversos tipos iniciaram nesse conceito, assim como grupos de cuidados com a saúde mental como os da ABRATA (Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos).
Grupos como alcoólicos e narcóticos anônimos ainda estão funcionando com a opção de atendimento online, basta procurar nos seus sites e identificar o horário que mais condiz com sua disponibilidade.
Como frequentar um grupo de apoio?
Como vimos até aqui, o grupo de apoio deve fazer parte da rotina do paciente, que estará em permanente tratamento da dependência química.
Conforme mostramos, o programa dos 12 passos não tem fim e representa uma eterna reafirmação de etapas.
Para iniciar, basta descobrir quais são os grupos disponíveis na sua região e ir até o local no horário dos encontros.
Falar não é obrigatório, o que diminui a pressão e permite que a comunicação só aconteça quando a pessoa se sentir verdadeiramente confortável.
No caso do AA, é possível encontrar informações sobre os grupos espalhados por todo o Brasil neste link.
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